Assim que ela surgiu, causou encantamento e curiosidade nos brasileiros, que viram sua unidade monetária mudar de cor, formato e tamanho. Embora fosse justamente a cédula de menor valor, a nota de R$ 1 foi a mais apreciada, já que é a que mais se assemelha às tão famosas "verdinhas" do tio Sam, o dólar americano, sinônimo de riqueza, economia desenvolvida e próspera.
Agora, está cada vez mais difícil encontrar o colibri, que desde 1º de julho de 1994, quando nasceu o real (nona moeda brasileira em quinhentos anos de existência), passa de mão em mão.
A figura, estampada nas cédulas de R$ 1, está desaparecendo e, após 13 anos, a nota mais presente no bolso do brasileiro está saindo de circulação. Cinco meses antes da extinção da nota de 1 Real, o Banco Central já cessara a fabricação das moedinhas de 1 centavo.
Segundo os registros do Banco Central do Brasil (BCB), a Casa da Moeda do Brasil (CMB) parou oficialmente a produção das cédulas no ano de 2005, com um total de 150 milhões de novas notas, mas no ano seguinte, para aproveitar o material (papel moeda e tinta) disponível foram lançadas no mercado mais quatro milhões de cédulas.
A idéia do BCB, de acordo com o chefe do Departamento do Meio Circulante, Cláudio Lagoeiro, é substituir, aos poucos, as cédulas de R$ 1 pelas notas de R$ 2 e por moedas. A justificativa para essa decisão está nas pesquisas econômicas, e as contas, na ponta do lápis: com a inflação sob controle e com baixo índice de desemprego, a população se demonstra mais confiante em gastar.
Essa mudança econômica e de comportamento obrigou o Banco Central a dispor maior volume de dinheiro circulante. Em 1994, primeiro ano de circulação do Real, existiam 994 milhões de notas no mercado, o que correspondia a R$ 9,5 bilhões.
O número de cédulas em circulação deu um salto e atualmente é de 3,6 bilhões, que equivalem a R$ 86,5 bilhões. Os cálculos apontam para um aumento de 362,17% no número de cédulas em circulação, e o valor monetário das notas disponíveis atingiu 910,52% de acréscimo nesse período de treze anos.
Se a aglomeração de valores sobre as notas não tivesse acontecido, paralelamente ao aumento do número de moedas, e o BCB tivesse acompanhado a proporção de 10,46% de cédulas circulantes em relação aos valores em reais, hoje existiriam quase 9,1 bilhões de notas passeando do Oiapoque ao Chui, número quase duas vezes maior do que existe hoje.
Moedas: nem sempre caem no gosto do cliente
Para a grande maioria dos brasileiros, que nunca foram fãs de moedas e também para aqueles que vivem do comércio e precisam, a todo instante, passar troco, as boas e velhas notas de R$ 1 estão fazendo falta. A Casa da Moeda, no entanto, não considera que isso seja um problema real, já que as notas estão sendo substituídas pelas moedas de igual valor. As maiores reclamações vêm dos clientes, que resistem em aceitar as moedinhas. A maioria reclama do peso, da falta de praticidade e do barulho que produzem na bolsa, ou no bolso.
Mas há também quem aceite de bom grado. São os que pensam logo no bom e velho cofrinho. É aí que surge um outro problema, tanto para o comércio, quanto para o Banco Central (e, consequentemente, para a Casa da Moeda). O antigo hábito de guardar moedas em casa tem causado falta de troco no comércio, e o fenômeno está forçando a CMB a trabalhar dia e noite com a capacidade máxima, a fim de repor no mercado o que o brasileiro retém em casa. E a conta, obviamente, quem paga é o contribuinte. Só no ano passado, o BC gastou R$ 190 milhões com a produção de novas moedas.
Pensando no problema, o BC lançou recentemente uma campanha para estimular e conscientizar o público sobre a importância do uso das moedas para pagar pequenas compras e no varejo em geral. De acordo com Cláudio Lagoeiro, o BC não pretende tirar o incentivo de quem poupa os trocados em casa, pensando no futuro. Pelo contrário. Não é de hoje que o BC recomenda à população a fazer um "pé de meia" e controlar as economias pessoais.
— É importante, sim, que as pessoas juntem aquele trocadinho da padaria ou das compras do mês, pensando em economizar para adquirir um produto que tenha um custo relativamente alto. Essa prática ajuda a evitar gastos supérfluos e estimula as pessoas a valorizarem seu dinheiro. Além do mais, isso não desaquece a economia de mercado, já que mais tarde, o dinheiro voltará a circular, ao ser investido em um produto. O grande problema mesmo é o longo tempo em que as pessoas retêm em casa as moedas que deveriam estar circulando — disse.
Segundo Lagoeiro, o ideal é que esses trocos em moedas sejam guardados por, no máximo, duas semanas. Após esse período, o consumidor deve procurar fazer no comércio uma troca por cédulas e continuar juntando, ou até mesmo depositar na caderneta de poupança.
Produção de moedas é mais cara que a de notas
A medida também foi tomada para economizar o dinheiro aplicado na produção, proveniente dos impostos pagos pelos trabalhadores e cidadãos, no ato da quitação de suas contas, ao fazer as compras mensais ou, simplesmente, ao adquirir um produto.
Sem revelar valores exatos dos custos de produção, o chefe do departamento afirmou que a confecção das moedinhas custa mais caro do que a das cédulas, porém a relação custo-benefício prova a força do metal: embora custem menos na hora de fabricar, a vida útil das cédulas é de cerca de 13 meses. Muitas não chegam nem à metade disso, devido aos maus tratos que os brasileiros costumam dispensar às notas, frequentemente amassadas, dobradas, rabiscadas e até coladas com adesivo.
Às vezes elas duram um pouco mais, já que algumas (poucas) pessoas possuem o hábito de guardá-las em locais que ajudam a conservação, como dentro de livros, pastas e carteiras. A falta de cuidado no manuseio faz com que 80% das novas notas sejam produzidas exclusivamente para substituição.
Somente no último ano, o gasto foi de R$ 136 milhões. Além disso, serve o alerta de que, para o cidadão, nota danificada aumenta o risco de receber dinheiro falso, já que com o tempo, as cédulas perdem as suas características iniciais.
No caso das moedas, o prazo de validade é bem mais longo. Com a ressalva de que, para durarem os cerca de 30 anos previstos, basta não serem expostas à corrosão e à ferrugem. Assim, a produção dos níqueis (que custam mais no momento da aquisição de material e da confecção) torna-se mais vantajosa.